7 habilidades musicais para se tornar um bom compositor de trilhas para Games

A Produção de Áudio para jogos é um trabalho multi-disciplinar que envolve diversos conhecimentos e habilidades tanto musicais como técnico-artísticas. Podemos subdividir esses conhecimentos e habilidades em 4 principais pilares:

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A ideia dessa série de posts é a de destacar a importância de cada um desses pilares, assim como seus principais elementos para que você possa compreender ou se tornar um profissional com uma visão mais ampla desse mercado, bem particular e recente. E poder buscar desenvolver seu lado artístico e técnico na área.

Nesse primeiro post da série iremos abordar o primeiro desses pilares: o Conhecimento Musical.

Primeiro, repare no gráfico acima como os tópicos vão englobando uns aos outros. A ideia é notar como assuntos como Improvisação e Composição, por exemplo, envolvem o estudo de diversos outros tópicos interligados, sendo disciplinas de alto-impacto e portanto prioritárias em seu desenvolvimento.

O Conhecimento Musical é importante para o desenvolvimento artístico do trabalho do compositor de trilhas para Games. Seja para estar apto a criar bons temas, melodias, harmonias interessantes, ter uma maior versatilidade musical em relação a poder criar em diferentes estéticas etc.

1. Teoria Musical

O que é?

Compreende o estudo das práticas consolidadas de criação ao longo dos séculos de desenvolvimento da música. Envolvendo assuntos como intervalos, escalas, ritmo, acordes, campo harmônico, leitura e escrita de partituras, harmonia, contraponto etc.

Por que é importante?

A teoria é importante para se entender um pouco das “regras e limites” da Música para que possa quebrá-las com maior segurança e propriedade na hora de criar suas composições.

Referências:

Teoria da Música – Bouhumil Med

Harmonia – Tonal Harmony – Stefan Kostka

Contraponto –  Cherubini: A treatise on counterpoint & fugue

2. Percepção Musical

O que é? 

Percepção é o estudo de reconhecimento dos sons. Sejam alturas (notas), ritmo (duração das notas), assim como harmonia (acordes e cadências).

Por que é importante?

A Percepção influencia na prática do compor na habilidade de traduzir nossas ideias musicais em som com maior facilidade. Seja transcrevendo essas ideias para um instrumento, para o papel ou para um editor de partituras, a Percepção é uma ferramenta fundamental do processo de criação musical.

Referência:

Ear Trainning and Sight Singing – Maurice Lieberman

3. História da Música

O que é?

Como o próprio nome diz, é o estudo da história das práticas musicais ao longo de diferentes períodos desde a Antiguidade (Grécia Antiga) até os dias atuais.

Por que é importante?

Para aprender como a música evoluiu desde a Grécia Antiga até a Música Contemporânea, passando por períodos como música da Idade Média, Renascimento, Barroco, Clássico, Romântico e música do Séc XX e suas “N” correntes. Sendo interessante ouvir e pesquisar como em cada uma dessas correntes a música “evoluiu” e mudou em relação à parâmetros como uso da harmonia, cromatismos, novas formas musicais (forma como a música é estruturada/dividida), novos instrumentos e formas de combiná-los, novas formas de se tocar, compor e interpretar etc.

Referências:

História da Música Ocidental – Donald  J. Grout

Resumo do Grout – pdf gratuito – Michael Morangelli

Documentário sobre a História da Música da Grécia Antiga até o Romantismo (em Português)

História da Música dos GAMES

4. Apreciação Musical

O que é?

Estudo que consiste numa escuta mais atenta da Música, reconhecimento elementos musicais teóricos (harmonia, estrutura/forma, textura orquestral, timbres, ritmos etc) assim como elementos históricos particulares de cada período musical.

Por que é importante?

De uma forma geral é importante para se desenvolver uma escuta mais atenta e crítica da música, reconhecendo elementos diversos por trás da criação musical. Por outro lado, é importante também para se formar um repertório de importantes composições de cada período da música que irão trazer interessantes insights para suas próprias criações. Pensando como compositor de trilhas sonoras para Games, vale a pena ouvir o máximo de trilhas possível para se ter um bom repertório de referências na hora de compor sua própria trilha sonora. É muito comum o desenvolvedor explicar a estética musical que deseja para seu jogo indicando diversas referências musicais para o compositor.

Referências:

Vídeo bacana de uma animação sobre um panorama geral da História da Música

Canal Youtube “My History of Music” com vasto repertório História da Música da Grécia Antiga aos dias atuais

Game Music – apenas algumas referências para incentivar o início de sua própria investigação acerca de diferentes estéticas musicais nos Games. Depois vou colocar mais posts com referências e análises de boas trilhas, ok? 

8 bits

The Legend of Zelda (1986)

Super Mario Bross 2 (1987)

Trilha eletrônica

Streets of Rage (1991)

Bomberman Hero (1998)

Trilha orquestral (estilo “Romântico”)

Final Fantasy 8 (1999)

Legend of Mana (1999)

Trilha Orquestral (estilo “Vanguarda”)

Dead Space 2 (2011)

Bioshock Infinity (2013)

“Folk”/”Experimental”

The Last of Us (2013)

5. Orquestração

O que é?

Consiste no estudo dos diferentes instrumentos e famílias de uma orquestra (Instrumentação), assim como o estudo de Equilíbrio, Função, Texturas orquestrais e análise de literatura orquestral em diferentes períodos musicais – como os compositores orquestravam suas composições em diferentes períodos da música e suas particularidades. Percebe a ligação com o estudo da História da Música e Apreciação Musical?

Por que é importante?

Permite a você orquestrar suas próprias composições/temas, assim como compor pensando nas possibilidades que uma orquestra lhe oferece em termos de variedades de timbres em texturas.  Isso vale não somente na composição usando samplers e VST´s de orquestra, assim como especialmente em situações que tenha de escrever para uma orquestra “de verdade” e ter uma melhor consciência de suas limitações, tirando o melhor som possível dela.

Referências:

The Study of Orchestration – Samuel Adler

Canal Youtube “Orquestration Online” – Thomas Goss

6. Improvisação e Instrumento

O que é?

Improvisação é o estudo que permite ao músico compor ideias musicais “em tempo real” de forma espontânea em seu instrumento (que pode ser sua própria voz, por exemplo). Estudo de instrumento compreende o estudo de técnica (execução usando diferentes articulações que o instrumento oferece), repertório (memorização músicas para performance), bem como estudo de leitura à primeira vista (leitura de partituras com instrumento), entre outras disciplinas.

Por que é importante?

É Importante para facilitar a transcrição e desenvolvimento de ideias no instrumento. Sendo a improvisação importante para a fluidez dessas ideias e o estudo de Instrumento para uma melhor “tradução” dessas ideias com boa técnica (afinação, ritmo, dinâmica etc). Melhor prepara o músico tanto para gravações em instrumentos acústicos, quanto eletrônicos/MIDI, evitando gastar-se muito tempo com diversos takes e edições.

Referências:

A Arte da Improvisação para todos instrumentos –  Nelson Faria

Jazz Piano, The Left Hand – The Ekay Piano Library

Video-aula sobre uso de contraste improvisação com o guitarrista Greg Howe

Curso de Instrumento Studio Vaz – aborda Teoria, Percepção Musical, Técnica Instrumental e Improvisação

7. Composição

Por que é importante?

Por último, englobando todos esses itens, é importante saber como compor, criar músicas, duh! haha! Para tanto existe um estudo que engloba todos 6 tópicos anteriores, aplicando tudo o que foi abordado antes em sua própria criação musical. Mas sim, a composição pode ser estudada de uma forma sistemática. Uma forma legal de se exercitar a Composição é ir definindo limitações na hora de criar. Por exemplo, experimentando por exemplo começar compondo para 1 instrumento apenas (peça-solo), passando por peças com pequenos conjuntos (quarteto de cordas, por exemplo) até chegar numa grande orquestra. Pode-se ir experimentando compor em diferentes durações começando por miniaturas de 1 minuto até chegar em grandes formas de 20, 30 minutos. Assim como ir experimentando diferentes técnicas composicionais como uso de motivos, serialismo etc.

Referências:

Fundamento Composição – Schoenberg

Curso de Composição no Studio Vaz

Achou muita coisa e tem pouco tempo pra estudar? Calma, a ideia é ir absorvendo essas informações devagarzinho mesmo. Vá focando em uma dessas matérias de cada vez aos poucos e COMPONHACRIE o máximo que puder. Por que? Porque assim estará aplicando TODOS esses conhecimentos de uma só vez numa criação sua que, uma vez gravada pode fazer parte de seu repertório musical, além de ser um bom registro do quanto está aprendendo e evoluindo musicalmente.

Tem 1 hora por dia pra estudar? Que tal estudar 30 min de Teoria e Compor por mais 30 min. Próximo dia, estude 30 min de Percepção (de preferência aplicando o que aprendeu em teoria) e COMPONHA por mais 30 min, e assim por diante estudando os outros tópicos. Que tal?

Caso precise de um cronograma mais bem estruturado e de um acompanhamento direto, procure cursos especializados próximos de você.

Próximo post falaremos mais sobre a Produção de Áudio, passando por processos de gravação, mixagem, implementação de áudio dinâmico Games etc. Fique ligado na nossa página do facebook e no site para atualizações de novos posts!

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